Catarse(...)1. Purgação, purificação, limpeza. (...) 3.Psicol. Efeito salutar provocado pela conscientização de uma lembrança fortemente emocional e/ou traumatizante, até então reprimida. 4. O efeito moral e purificador da tragédia clássica, conceituado por Aristóteles, cujas situações dramáticas, (...), trazem à tona o sentimento de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou purgação, desses sentimentos.(...) Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986)

domingo, 30 de maio de 2010

Quem é você que se esconde de mim? Porque me deixa conduzir-te pelas mãos sem mostrar-me a face. Porque me espiona, escondida sob a mesa, deixando-me curioso e assustado?

Saia desse esconderijo fajuto e me encare os olhos. Fique de pé e siga ao meu lado em marcha. Não se faça de tonta deixando que eu te arraste como se não quisesse seguir.

Deixe esse doce, esse charme, essa meninice. Guarde suas máscaras, vista-se de coragem, tire sua roupa, envolva os nossos corpos e me permita entrar.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Simplesmente ouvir...

domingo, 23 de maio de 2010

As estações da alma

A primavera da alma é quando a inspiração se instala e florescemos por meio da escrita, da composição, dos traços, da criação.

O verão é a colheita pós produção. É o calor n´alma gerado pela troca de idéias, pelas paixões derramadas em canções, pelas dores amenizadas pela forte expressão das tintas.

O outono da alma é o primeiro passo para o interior. São os dias de faxina, quando se escolhe o que deve ser preservado e o que será adequadamente descartado.

O inverno é a colheita da alma. São os tempos de recolhimento, de solidão, de escuta, de calar-se, então. Em homenagem ao silêncio hibernal, recolho-me e escuto o que me aquece o coração:

Gracias a La Vida: http://www.youtube.com/watch?v=WyOJ-A5iv5I

sábado, 8 de maio de 2010

Luiz e seu umbigo...

Os olhos de Luiz eram azuis e nada diziam além de um adocicado encanto no refletir de um céu de dias quentes. Sua beleza era simples, direta e óbvia. O seu corpo, seu cabelo, os traços da face, tudo, tudo, parecia ter sido desenhado em perfeita sintonia. E como se não fosse suficiente aquela toda perfeição, trazia uma pinta escura pouco acima de uma das sobrancelhas. Aquela macha parecia calculadamente colocada ali, numa espécie de borrão proposital, como se o artista que o desenhou, quisesse quebrar, elegantemente, o excesso de sintonia.

E Luiz cresceu assim, sem nunca suscitar qualquer dúvida sobre a sua beleza. Filho único de pais maduros. Cresceu em um ambiente de amor, com palavras doces, entre um vocabulário vasto e rico de conteúdo diversificado. Aprendia com facilidade as línguas e as histórias dos países que visitava. Luiz cresceu assim, em gradual sintonia do seu ser belo e de toda a beleza que havia no mundo que o cercava.
Aquele homem forte e alto, de queixo quadrado, olhos azuis e uma pinta na testa compunham bem qualquer ambiente. Assuntos lhe eram fluentes, seja qual fosse o contexto. Os trabalhos e as oportunidades se encaixavam no decorrer de sua vida, sempre bem adequados os desafios à maturidade que lhe evoluía.

As mulheres eram tantas, de todas as variedades de gosto e estilo. É que seu encanto era assim, atendia a todos os gostos, compunha-se com quaisquer ornamentos. Era belo, adequado, básico, unânime.

Naquela madrugada, o calor lhe incomodava. A moça de doces lábios e quadris torneados dormia elegantemente embrulhada nos lençóis cor de gelo. A janela já estava escancarada e a luz da lua roubava-lhe o sossego, e intensificava a quentura daquele quarto pequeno.

Luiz levantou-se aperreado. Correu ao chuveiro em busca de água fresca para lhe apaziguar a alma. É que aquele calor lhe tirava o sossego, desconcertava toda a sua harmonia de uma vida. Deparou-se com sua imagem no espelho do banheiro, ou com todas as imagens que ali se refletiam. Deu-se conta de que sua beleza era tão sintonizada com todo o resto que lhe cercava, tão adaptada, tão bem composta com tudo, que já não se diferenciava.

Seus olhos azuis vasculharam com certo desespero pela imagem refletida. E, por um triz, quase se deu por perdido, mesclado a todo o resto que lhe cercava. Por pouco, muito pouco, por uma gota de suor que lhe escorria a face, identificou-se enfim. A gota descia desde a testa, contornando a pinta, desenhando-lhe o pescoço, o peito, até chegar ao umbigo, onde se estagnou e fixou a atenção de Luiz a si mesmo.

E naquela poça formada no próprio umbigo, Luiz viu-se refletido com aqueles lindos olhos azuis. E eles nada lhe disseram, além de um adocicado encanto no refletir de um céu de dias quentes. E Luiz sentiu-se vazio, insignificante, insuportavelmente consciente de sua existência estéril. E foi ali, em torno de seu próprio umbigo, que Luiz voltou-se a si mesmo, e, finalmente, saiu de si, e se destoou do mundo e pode, então, acrescentar-se àquele mesmo mundo.

domingo, 2 de maio de 2010

Você se lembra daquela garrafa de vinho? A primeira das nossas... A noite fria, aquela varanda arborizada, a luz das velas. Eram tantas as malhas para acobertarem do frio. Eram tantos os assuntos. Era quente aquela noite fria.
Os corpos eram bons. O tinto orquestrava cada membro em movimento perfeitamente sintonizado. Ou, quem sabe, o álcool simplesmente adormecia os sentidos e impedia a percepção de qualquer descompasso.
Seja como for, lembro-me mais das preliminares, talvez pela sobriedade que ainda restava. E não eram regadas de toques, línguas, ou carícias insinuantes. Eram palavras, conversas que pareciam transbordar a noite de idéias. E quantas idéias, e quantas interrogações; e algumas supostas respostas. E como aquelas palavras, tão cheias de sentido, davam gradativamente destino ao nosso encontro.
Até que a madrugada, o vinho, o frio, as palavras, as ideias, nada mais existiam. Apenas eu e você. Como se fossem, tudo aquilo, apenas instrumentos do objetivo maior: o amor, o encontro.