Catarse(...)1. Purgação, purificação, limpeza. (...) 3.Psicol. Efeito salutar provocado pela conscientização de uma lembrança fortemente emocional e/ou traumatizante, até então reprimida. 4. O efeito moral e purificador da tragédia clássica, conceituado por Aristóteles, cujas situações dramáticas, (...), trazem à tona o sentimento de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou purgação, desses sentimentos.(...) Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Sonhar é bom

A sua mão agia rapidamente sacando-me as vestes. Mas seu olhar, sempre mais ágil, já havia me despido a alma, tornando-me miseravelmente vulnerável.
Minha pele encharcava-se em sal. Meu olhar zanzava, em teimosa tentativa de acompanhar seus movimentos e fitar-lhe os olhos, e tocar-lhe o ser.
Inútil. Não podia mais dominar qualquer movimento meu. Respondia a todos os seus comandos silenciosos, e sorria. Não havia mais razão. Nenhum conceito existia, era só o sentir, o deixar-se ir.
Mas por um segundo seus olhos fixaram os meus. Não havia mais corpos, mãos, sorrisos, nada. Pressenti as palavras saindo de sua boca, e, antes que dissesse “te amo!”, o despertador gritou “seis e meia”.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Hoje recebi a sua carta. Senti uma profunda dor ao ler tudo que você não escreveu. Meu coração soletrou palavra por palavra, como um mantra em Déjà vu. Você parecia partir repetidas vezes, enquanto eu reiterava a dor de quem fica em prantos.

As lágrimas se romperam. Na tentativa de transgredir a dor, me pus a pensar-me um mito. E se assim eu fosse, teria me convertido em rio e levado aquela magoa até o mar, onde me diluiria em sal e me quebraria em ondas.
Mas sou eu de carne e osso, e me desdobro em faces para apaziguar a alma e caminhar mais leve.

Mais uma vez segui meus rituais. Li e reli cada palavra. Reiterei a despedida, a dor, a saudade, a mágoa, a raiva, o ódio, a dor de novo, a saudade, a falta de ar, a falta do chão, mais raiva, lágrimas, o retorno do ar, um pouco de mágoa, a saudade, o chão, dor, ar, ar, ar, chão, paz...

O peito ainda aperta. O envelope guarda as flores e o conteúdo cheio de carinho e agradecimento. Na gaveta encontra-se tudo, a dor que nego para seguir a vida, e a paixão subtraída por sentimentos nobres e palavras doces.
Do lado de fora, ando em plumas, com um silêncio de quem deseja chamar-te a atenção.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

À espera do inesperado...

A paixão não manda cartas, email, ou faz telefonemas dando aviso de chegada. Não bate à porta. A paixão é assim, sem modos, invasiva. Não diz ao menos ao que veio, não traz promessas, nem cronograma de duração.
Essa coisa arrebatadora parece até coisa de Deus. Quebra nossas pernas, coloca-nos de quatro, entregues, desarmados. Apaixonar-se é método inebriante de tornar-se consciente da própria humanidade, e de sua inexorável vulnerabilidade.
Talvez seja coisa do Diabo. Que nos seduz, envolve, encanta. Capaz de nos tirar do prumo, do bom senso, de nos arrancar os valores e nos despir da moral.
A paixão pode acender velas, aumentar a lua, brilhar estrelas, dançar o corpo, correr os pés, tocar a pele, cheirar aromas, lamber a língua, olhar os olhos...
A paixão é irreverente, livre, autêntica, e, notadamente pertinaz. Só vai quando quer; também só chega quando bem entende...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Choque de auto conhecimento, em lamento.

Há preços que se paga em deleite. Cada moeda que se tira do bolso vale como um múltiplo gozo.

É estranho como me causa certo asco me ler em frase tão feia. Mas sou eu assim, tão humana e tão ressentida por certas humanidades alheias. Tão enojada das atitudes hipócritas, mesmo que me veja merecedora delas. Mesmo que me reconheça sujeito de muitas delas.

Há cenas que me causam estranheza porque não as consigo dominar com a minha pureza de espírito. São cenas capazes de me escancarar a alma, e a capacidade que tenho de ser vil, estranha, superficial, medonha.

De tudo isso, sobra uma boa impressão de mim mesma. Da minha inabilidade de lidar com o que há de tão ruim em mim, fica a exposição de que no fundo sou pessoa boa. Ou que, intimamente, desejo assim ser.

Agora não me importa mais o que é real, ou que seja mesmo de fato. Trato de coisas que senti. E não foram boas. Foram feias. Coisas que já me pareceram tão belas, e agora, em confusão expressa na face, desdenho, me desfaço, descarto. Em síntese, lamento muito.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Em paz coma própria esquizofrenia...

Eu e ela convivemos sobre o mesmo teto, sobre as mesmas sombras, entre as mesmas crises.
Eu e ela somos mulheres, somos vividas, somos de idas e vindas.
Eu e ela somos a mesma alma, os mesmos olhos, a mesma voz grave e desafinada.
Somos fragmentos de uma só pessoa. Mas há horas em que ela sabe mais de mim, e noutras, sinto prazer em me reconhecer nela.
Ando em paz comigo e o “comigo” anda em paz com ela, e em paz com todas as outras manifestações de mim, que se pluralizam no decorrer de minha vida.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Covardia

A porta entreaberta cutucou minha curiosidade. Aproximei-me devagar e espiei cuidadosamente o interior daquela vida.
Embora desejasse entrar, fugi.