Catarse(...)1. Purgação, purificação, limpeza. (...) 3.Psicol. Efeito salutar provocado pela conscientização de uma lembrança fortemente emocional e/ou traumatizante, até então reprimida. 4. O efeito moral e purificador da tragédia clássica, conceituado por Aristóteles, cujas situações dramáticas, (...), trazem à tona o sentimento de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou purgação, desses sentimentos.(...) Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Esvaziamento d´alma

Nada pode ser mais devastador para um poeta do que a dor, que, de tão doída, lhe arranca a poesia. Posso suportar a solidão das pessoas, mas não suportarei essa mudez, esse silêncio, esse nada que me invade a alma e esvazia meu coração.
Fiz de mim, minha melhor companheira e conselheira. É de minhas entranhas que extraio essa energia intensa de vida que se expressa em palavras sentidas. É do pulsar lento de minhas veias, que me esculpi num curso de proporções hidrográficas, seguindo em enxurrada, o percurso de minha própria correnteza.
Por falta de terra firme, tornei-me exímia navegadora desse eu enchente, e há muito abandonei os enjôos causados por esse horizonte sempre instável. As palavras choradas, ainda que em gargalhadas, tornaram-se proas de minhas diversificadas embarcações.
Mas se me afogo em água tão turva, que nem mesmo um verso me atravessa a alma, sinto-me imergir nesse triste silêncio sem retorno, que é o mesmo que constatar que morri.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ressabiada, deixo-me conduzir por essas mãos pouco conhecidas. Com o canto de olho, observo a suavidade com que me tocam, e me surpreendo quando percebo que ainda permanecem ali.
Desde então, tenho sido flagrada sorrindo ao nada. E meu olhar matreiro denuncia o teor clandestino de onde passeiam meus pensamentos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vigiar as palavras de um poeta é tão castrador quanto impedir ao boêmio a boemia.
Vasculhar pela verdade do poeta é persuadi-lo a uma realidade que lhe é indigesta.
Poetar é transgredir à insossa realidade, é derramar-se do que ainda lhe falta, é dar vida ao que morre dia a dia.
Respeitar a poesia é aceitá-la, se lhe fizer sentido. Caso contrário, deixe-a seguir seu rumo, assim mesmo, sem verdade, sem razão, sem prumo.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Republicando. Escrito em 31 de maio de 2004

Vou criá-lo para mim
Imaginá-lo
Desenhá-lo
Serás a minha invenção
Fruto de muita e deliciosa imaginação

Não sei como será o seu rosto.
Suas mãos, quero-as fortes e intensas
Energia tântrica me excitando com paixão

O corpo...
Forte? Talvez não!
Deve ser quente,
sabor transpiração.

De sua boca, entre um e outro beijo molhado ou não)
sairão muitas palavras,belas, inteligentes, negligentes, insanas ou de perversão.

Hei de senti-lo quente
Pulsando
Com meu quadril em suas mãos.

Porém, não saberei amá-lo eternamente
Se não for livre para amar-me
Pois te criei com essa função.

Ai não! Amor narciso, sem graça
Não és nada! Só fruto da minha
própria imaginação

Amor platônico!
Pensando bem...
Te quero não!

sábado, 10 de setembro de 2011

Ele ficou ali, sentado sobre a cama, admirando sua última conquista. Ela dormia profundo, entregue. A pele voltava vagarosamente à palidez usual, mas ainda restava manchada de uma cor indefinida, envernizada, úmida, e salgada.

Embora já não sentisse qualquer vestígio de desejo por aquele corpo, regozijava-se pelo seu mérito. Havia, porém, um leve sentimento de frustração, por ter sido um desafio menos trabalhoso do que supunha.

Quando a escolheu, entre tantas as outras moças que não lhe davam a devida atenção, julgava ser ela a mais próxima do inalcançável. Um tanto misteriosa, trazia consigo um gestual que sutilmente denunciava sua autoconfiança. Suas palavras sagazes esbanjavam uma capacidade de interação com o mundo, mas evidenciavam uma auto proteção exacerbada, que denunciava seu ponto fraco.

Sentia-se atraído pela moça. Menos pelo desejo de tê-la em seus braços, e mais pelo desafio que sua personalidade intrigante lhe instigava.
Nunca pensou que de fato a teria, assim, lânguida, desprotegida, escancarada sobre seus lençóis. Tão pouco pôde prever que a teria tido em seus braços, com olhar tão doce, e respiração ofegante.

Sua entrega foi tão intensa, transparente, presente e desarmada, que lhe estancava o encantamento. Sentiu-se um tanto decepcionado. Traído, de certa forma.

Continuou sentado, esperando o sabor da conquista diluir-se misturado entre seus lençóis. Nada lhe restava a fazer, a não ser esperar que a moça se fosse, para, então, sair em busca de uma nova e instigante conquista.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A dolorosa...

Passando a régua, noves fora, nunca será zero.
Sempre se leva um punhado de vida, ainda que dor.
Minha alma tornou-se acanhada, sisuda.
Mas, ainda, não se esquiva covarde.
Adulta, serena, pé ante pé.
Sentidos apurados, suspiros tímidos, desconfiados.
Menos estabanada, acolho o temor alheio.
Baixo a guarda, confio, permito, sinto.
No passar da régua, sempre há o que se levar.
Necessário apenas estar-se inteiro. Porque ao sair, é melhor que seja andando, ereto, firme. Convicto de que valeu, sem pena.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

quem me dera!

Quem me dera um amor agora! Daquele que chega pelas bordas, manso, lento, denso. Um amor meio serpente, sorrateiro, que se enrosque em meu pescoço, abale minhas defesas, drible minhas dúvidas, e penetre a minha alma.
Quem me dera, agora, um romance! Assoviar distraída, viajar em pensamentos tolos, espalhar sorrisos aos quatro cantos, sonhar planos com a vida alheia...
Ai! Quem dera uma paixão pra ontem! De me deixar sem rumo, sem prumo, sem chão... ai ai... quem me dera!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Desejo de ano novo

Postado originalmente em 03/06/2006, aqui: http://www.casanocampodacabral.blogger.com.br/2006_01_01_archive.html

Estou com sede
Quero provar de todos os sucos
e saborear o gosto insípido da água
Fome eu sinto,
mas a gula é sempre maior
e é na gula, exatamente por ser um pecado
que eu encontro o prazer
Satisfação é pouco
Sou matéria da pura
pouco trago de espírito
Ainda chego lá
Por enquanto me inspiro em sabores
Deixo-me seduzir por odores,
as delícias pecaminosas do tato
e a saliva do paladar

Desejo de ano novo...
De quem abre abre as portas e as janelas
Quero a brisa porque é romântica
e a ventania que é movimento
a tempestade para que eu finalmente tire as roupas do varal
O sol que me aquece o corpo
e amor pra aquecer minh' alma

Rugas de expressão

Quando a noite cai, e me desfaço dos meus personagens diurnos, olho-me refletida no espelho e lamento. Ressentida, por ver aquela moça cansada, de olheiras profundas, e coração partido.
Preparo a cama, ascendo o abajur, deixo um copo de água sobre o criado mudo e ensaio alguma leitura relaxante. Dou uma última olhada naquele corpo jogado entre os travesseiros. Penso em alguns reparos que lhe seriam bem vindos. Alguns ajustes no busto: um pouco maior, talvez. Uma empinada nos glúteos e uma torneada nas coxas. Perfeito!
Desvisto-me dos meus desejos de perfeição e retorno, jogada aos travesseiros. Aproprio-me da realidade e me torno humanamente equivocada, torta, marcada, vivida...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Você anda sem sapatos pelo chão da sala, e encera o piso com esse arrastar de barra de calça. Esse seu rastro lustroso ilustra as marcas de sua presença que dão mais brilho aos meus dias.

E tão demodé como a madeira encerada,
sou eu assim, essa moça apaixonada...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Com o salto em punhos

Tenho dessas atitudes inusitadas. E embora peça perdão por meus equívocos, ou por eventuais excessos, destes rompantes indolores eu não abro mão.
São, para mim, descansos para os pés exaustos do salto.
É preciso prevenir as varizes e os problemas cardíacos que decorrem da má circulação. Somatizar pra quê? Se é tão simples descalçar-se e deixar o fluxo ir se diluindo na terra molhada?
Viva o descer do salto! Porque é possível a elegância em pés descalços.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Recado

Precisei sair de fininho.
Sim, admito minha covardia. Tive medo que me visse ir, e não implorasse pra eu ficar. Tive medo de olhar seus olhos de menino, e de cair aos seus pés implorando pelo que não pode me dar. Senti pânico do futuro que eu viria sonhar ao seu lado, e desespero por não concretizá-los – tão perfeitamente construídos: os sonhos.
Foi preciso andar leve e sorrateira, e enfiar as narinas entre os dedos opositores. É que seu cheiro me atava ali: inebriada, lânguida, perdida de amor e de desejo.
Deixo aqui um recado anotado, sem nome, sem endereço, sem destino. Um recado sem data, sem prazo, sem fim. Um pedido desesperado para que, por favor, não se aproxime de mim...

pecado sutil

Enrolado entre lençóis brancos, o corpo de pele pálida parecia frio.
Desfalecia, entregue, como se vida ali já não houvesse.
Mas a face rubra denunciava o frescor do pecado, que floresce apenas onde há o ardente calor da vida.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Em um quarto distante e impessoal, um reencontro

Pela janela do sexto andar, analiso a cidade desconhecida. Arrisco-me na fantasia de uma vida construída ali. Aprecio as construções irregulares e antigas, o roncar dos motores de uma movimentada avenida, e a noite que demora a cair no horizonte.
São nove da noite e ainda há luz no entorno desta Terra. Estou sentada numa cama confortável, com a TV ligada, e essa máquina quente sobre meu colo. Na parede, há um espelho, que me reflete o lado oeste da cidade. Naquele canto, o céu ainda sustenta um redundante azul celeste. E, repito, passam poucos minutos das nove horas.
Estou aqui há poucas horas. Algumas delas foram muito bem investidas em uma gostosa soneca. Alguns minutos alternados entre a internet e um filme na TV. Algumas páginas de estudo tiveram seu espaço. Também tive tempo de chorar, assistindo à tragédia provocada pela chuva no litoral fluminense.
Mas bem aqui, nesse lugar, longe de casa, fui surpreendida por um encontro inesperado. Meu coração, que andava angustiado, silenciou. E posso dizer que neste instante sinto felicidade.
É que nesse quarto distante e impessoal, após inúmeros desencontros, mais uma vez, me reencontrei.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

migalhas

Passeio por esse jardim da internet e recolho os pequenos detalhes que deixas pra mim. Em silêncio, colho cada sinal como se fossem flores, e monto um delicado buquê, tão sutil como tem sido sua discreta e carinhosa presença...