Catarse(...)1. Purgação, purificação, limpeza. (...) 3.Psicol. Efeito salutar provocado pela conscientização de uma lembrança fortemente emocional e/ou traumatizante, até então reprimida. 4. O efeito moral e purificador da tragédia clássica, conceituado por Aristóteles, cujas situações dramáticas, (...), trazem à tona o sentimento de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou purgação, desses sentimentos.(...) Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Desfazendo as malas

A vida (quase) inteira em Brasília e espaço público nunca foi uma questão. Encontros culturais no canteiro central do eixo monumental, festas de posse dos presidentes e desfiles de 7 de setembro, são exemplos de atividades que participo há anos na capital do país.
No plano piloto é até mesmo dispensável ir ao parque da cidade. Você desce do bloco onde mora, e pronto, tudo é parque. Os prédios apoiados em pilotis permitem o vai vem dos pedestres e o pique esconde da garotada. Em quase todas as superquadras é possível ver crianças correndo e brincando, jogando futebol, basquete, ou fazendo rodinhas de fofocas (ao meu olhar inocente).
As distâncias áridas e a própria cultura da cidade afastam o hábito do caminhar. Pouco se aproveita do excesso de espaço. A classe média do plano gasta pouco de sola do pé. Há alguns, muitos, que pegam o carro para ir à rua comercial, que fica a cerca de cinquenta metros de casa. Puro desperdício de espaço livre.

Eu vim para São Paulo entusiasmada com a experiência de um lugar diferente. Uma cidade assim, com cara de cidade, sabe?! Prédios velhos e acinzentados no centro, e uma variedade absurda de texturas, formas, cores e plantas de casas e apartamentos. Feira de rua. Ah! Como eu gosto de feiras de frutas na rua.
Cheguei aqui ciente dos problemas com o trânsito, a violência urbana, a poluição, os desajustes sociais cada vez mais intensos. Mas mal desfiz a minha mala e comecei a olhar os arredores em busca do meu lugar.
Sortuda que sou, chego em Essepê num momento efervescente. Manifestações políticas ocupam a praça Roosevelt (que acaba de passar por um longo processo de revitalização), festas são organizadas ao longo do minhocão, em praças públicas, e até em cemitério. Um grupo de moradores do meu bairro está organizada para evitar que um terreno de aproximadamente 20 metros quadrados, com potencial para um parque com área verde, se transforme em mais uma engenhoca de projetos imobiliários.
Se por um lado cheguei nessa cidade em que incêndios misteriosos se repetem para que barracos de madeira, transformados em cinza, dê espaço para construções imediatas de estacionamentos, por outro, chego nesse momento em que a sociedade sente-se obrigada a reagir, se impor, e transformar.
Sinto-me entusiasmada, sintonizada com essa cidade cinza, que apesar de marcada pelo passar do tempo, mantém uma energia revigorante, daqueles que acreditam no amor pela vida, e tem fé no poder transformador dos seres humanos.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Despedida à vovó Dalva

“Avó é mãe duas vezes”, foi o que ouvi minha avó repetir incontáveis vezes. Era a sua tentativa vã para convencer a neta, mimada e insolente, a respeitar a sua autoridade. Nem sempre alcançava o resultado desejado. Meu ímpeto pela insubordinação suplantava minha compreensão do que significavam aquelas palavras. Outras palavras marcaram essa figura com nome de estrela. Mas uma delas era a sua marca mais conhecida: o nome pelo qual chamava o meu avô. João Gonzaga foi o seu marido, pai de seus filhos e dedicado companheiro. Era o seu porto seguro, sua âncora para a sanidade. Ah! E com tantos os traumas que podem caber numa vida, manter-se sã seria mesmo uma loucura. Ontem, enquanto assistia à sua despedida, me distraía observando sua maternidade impressa em cada um de seus filhos, e em cada um de nós, seus netos. Sua personalidade expressiva - um tanto passional-, sua capacidade de deslumbrar-se com as coisas mais simples, sua preocupação em cuidar de si e manter-se sempre muito feminina são algumas de suas características que me foram herdadas dessa maternidade duplicada. Minha avó está se despedindo dos filhos, dos amigos, familiares, dos padres, das missas, dos terços, das rezas, das jóias. Dos lenços de “Noviorque” - presenteados pela afilhada Sônia, e de seu rosto sempre rosado de blush. Antagonicamente, ela segue agora ao encontro de quem sempre deu sentido à sua vida. E eu espero que possamos perdoá-la por não termos sido suficientes para mantê-la aqui. Dia 12 de junho de 2012, dia dos namorados, indecisa sobre ir ou ficar, vovó Dalva saiu de fininho, num movimento suave, e seguiu ao encontro do John, seu amor e eterno namorado...

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Amor, meu refúgio da luta...

Amores são desprovidos de fórmulas. Cada encontro alinha-se em seu próprio encanto. Todavia, minha querida amiga, amor é de sentir-se por pessoas. E essas são livres. E se não for assim, amor não é.

Eu venho, desde muito jovem, me aperfeiçoando na arte lutar. Pelos meus desejos, meu espaço, minha liberdade, minha opinião, minhas crenças e objetivos. Carrego no sangue uma teimosia doente. Lanço olhares sinceros de ódio e, quando extremamente necessário, guardo na manga um falso e doce sorriso, bem convincente.

Mas meus amores nunca foram conquistados. Sou guerreira da vida, e o amor é meu campo de refúgio. É meu momento de despir-me das armaduras, alíviar-me dos pesos das armas, sentir-me leve.

Posso lutar até por um Estado, por um país, ou por um ideal ingênuo. Luto pelo paradigma que me foi imposto nessa saga inscrita em minha história. Irracional e Impulsiva.

Ah! Mas meu amor deve ser espontâneo, desarmado, livre. O meu amor deve ser inconquistável. O amor que eu sonho, deve ser aquele encontrado no meio de um caminho inesperado, para que eu possa me ludibriar em fantasias românticas, sonhando ter sido ele me imposto pelo destino.Porque não houve procura, não houve artimanhas ou estratégias.

O meu amor simplesmente acontece. A única força que poderá mantê-lo é a reciprocidade e o desejo mútuo e reconfortante de estar-se ali.