Catarse(...)1. Purgação, purificação, limpeza. (...) 3.Psicol. Efeito salutar provocado pela conscientização de uma lembrança fortemente emocional e/ou traumatizante, até então reprimida. 4. O efeito moral e purificador da tragédia clássica, conceituado por Aristóteles, cujas situações dramáticas, (...), trazem à tona o sentimento de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou purgação, desses sentimentos.(...) Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Palavras, soltas, ligadas

(Republicação - Casa no Campo em 02/04/2008 http://www.casanocampodacabral.blogger.com.br/)

Eu sinto
Sente
Sinta
Pressinta
Persista
Não desista
Me liga
Me ama
Me chama
Me clama
Reclama
Declama
Na cama
Com cana
Só Ana
Desanda
Desata
Engata
Enlaça
Me laça
Se lança
Se liga
Me liga
De novo
Me ama.

domingo, 27 de junho de 2010

A lua cheia ilumina o quarto vazio. O frio do inverno denuncia a falta de calor humano. E a perspectiva de que algo pode acontecer, qualquer coisa, é brasa que promete labareda.
Por enquanto, apenas expectativas, desejos, possibilidades.
De palpável, um travesseiro macio, uma colcha grossa, uma taça de vinho barato, um ou dois livros já lidos à metade, e a janela desenhada pela Lua. Fica a deliciosa conclusão de que a solidão é também cheia de graça.

sábado, 19 de junho de 2010

Dizem tanto sobre a vida em frases de efeito que me fazem todo o sentido. Mas o sentir da vida muda, e tais versos tomam proporções tão distintas, a depender do momento de um mesmo dia em que se lê, ou se escuta.

A vida pode expressar-se rica e divertida. Por vezes, a própria dor em recordação parece-nos ingênua, doce, e engraçada.

Mas a vida, enquanto dor, no momento em que é doída, confunde-se com a morte.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A meu filho, parabéns pelos 18 anos! Com amor...

Há dezoito anos eu era uma menina e me acreditava mulher. Acordei meu companheiro sentindo uma Leve cólica, que já não sentia desde o início daquelas trinta e seis semanas desconcertantes. Era quinze de junho de mil novecentos e noventa e dois.

O dia era de sol e, embora fosse junho, não fazia tanto frio. As dores pioravam lentamente ao longo do dia. Às 14 horas, durante avaliação médica, Dra Fátima me informou que meu corpo estava a um passo (ou a alguns centímetros) do preparo ideal para o tão esperado parto.

Aquela informação foi-me mais perturbadora que o “positivo para gravidez”, que havia lido havia trinta e poucas semanas. Sentia-me profundamente arrependida de todos os meus pecados. Ou pelo menos daqueles relacionados à luxuria – que, afinal, haviam me conduzido até ali.

Eu era uma menina de dezesseis anos e, embora meu desespero pudesse ser facilmente notado na expressão do meu rosto, ninguém se apercebeu dele. È que estavam todos, futura avó, futuro pai, amigos, familiares, e até a obstetra, em verdadeiro pânico .

E estavam tão preocupados em disfarçar o próprio desespero, que nem se davam conta do que estava estampado em minha face. Até hoje lembram com admiração a destemida adolescente a caminho do parto normal.

Um médico desconhecido me examinou e disse que ainda faltava tempo. Esclareceu que a Dra. Fátima ( a minha adorável obstetra) terminaria sua consulta odontológica e viria ao meu encontro.

A essas alturas o pânico me era maior que as dores, e eu desejei arrancar todos os dentes da minha médica que se atrevia a deixar-me ali com um Dr. Qualquer, minha mãe e o pobre do futuro pai, que completaria dezessete na semana seguinte.

Mas logo estava ela no mesmo quarto que eu, sentada no sofá, e fazendo cara de paisagem, enquanto eu enchia de hematomas, com amáveis mordidas, o jovem que estava para virar pai do meu filho.

Lembro-me de que as dores eram suportáveis. Mas que eu não me sentia capaz de obedecer ao comando médico de fazer força enquanto a dor me incomodava. Acontece que a natureza demonstrou-se mais sábia. E eu consegui.

Mais um exame, mais uma força, e então seria pra valer. Dra Fátima chamou a equipe e deu o comando para que me levassem à sala de parto. Nessa hora eu nem me lembro de sentir dor. O medo ocupava a sala. Havia enfermeiros, médicos, e o jovem futuro pai que, ansioso, segurava a minha mão.

As ecografias não tinham alcançado o sexo. Seria uma surpresa, e Dra Fátima arriscou que seria uma menina.

Minhas pernas estavam cobertas e penduradas. Abertas, como se pode supor! E lembro-me da médica, novamente, me dar aquele comando absurdo para que eu fizesse força. Incrédula, levantei ligeiramente a cabeça e saquei energia de não sei onde.

Ouvi a voz da médica com certo entusiasmo repetindo: “Está saindo! Mais uma vez!”. E dessa vez a força veio com tudo, e junto um quase berro, um uivo esganiçado. E, ainda, no mesmo instante, senti as pernas dele saindo por entre as minhas. E o pediatra, recebia a criança e dizia: “Quantas mulheres fazem escândalo, e essa menina nem gritou!”

A Dra. Fátima limitou-se a dizer que havia se enganado. A mensagem estava dada. O jovem pai tinha os olhos cheios de lágrima e repetia: “É macho! É macho!”. Assim mesmo! Tão ridículo quanto se espera de um pai no nascimento do filho.

O bebê foi colocado sobre meu peito. Ele ainda não tinha nome. E eu estava feliz porque me disseram que ele tinha saúde. Sentia-me orgulhosa. Muito aliviada porque o tal do parto já tinha sido superado. E um mundo desconhecido estava representado naquele pedacinho de gente, ainda meio amassado, colocado sobre meu corpo.

Naquela noite, de quinze de junho de 1992, às 20h30, numa clínica de Brasília, minha vida tornou-se outra vida. E só ali eu pude compreender o que meu pai havia me dito quando soube da minha gravidez. Filho é para sempre.

Suposta liberdade

A bondade de se crer num destino certo é que tal crença nos alivia as responsabilidades. Se já está escrito, eu que não vou rasurar.

Mas não me atenho a essas crendices, e prefiro o árduo trabalho de tomar decisões, sempre ponderando sobre os riscos, e calculando os possíveis danos.

Eu sou adepta a tomar decisões. Mas o faço por teimosia. Elas expõem meu lado frágil, meus medos, minhas angústias. Trazem à tona o exato valor a ser pago pela liberdade que tanto prezo.

Costumo repetir a meu filho que liberdade é algo que se conquista com responsabilidade. Que ele não me ouça (não me leia), mas trata-se de balela, engodo. Responsabilidade é conceito que se assimila pelo exercício contínuo da liberdade.

A ignorância é santa, é leve, é descompromissada. Ignorar é viver.

O conhecimento é fantasia de que se é possível fazer escolhas. É viver preso à idéia de liberdade. É condenar-se ao medo da opção pelo pior caminho.

domingo, 13 de junho de 2010

Republicagem (Post do Casa no Campo de 31/05/2004)

Inspiradora dor
dor com efeito inspirador

Dor que é minha
Que dela não abro a mão
Nem deixo que solte meu coração.

Minha viagem atormentada
Delírio de madrugada
Sonhei com seu telefonema
Acordei nua, vazia, sem merecer meu perdão

Dor que eu já vivi
Saudades que eu não me permito mais voltar a sentir.
Quero arrancar esse velho retorno
História de vida que se repete
A terapia que eu não fiz
A dor por não me sentir feliz

Amor que eu deveria ter negado
Mas se o nego, faço-o a mim
Maldita terapia que eu não fiz
Amor próprio defeituoso
Carinhos que só dedico ao outro
Um outro que se esquece de mim

Nessas palavras eu me enterro
Ritual que dedico a mim
Morte aos românticos melancólicos
Quero que o Amor continue
Mas que morra a forma desvirtuada
Que aprendi a amar
E então
amar a mim, em primeiro lugar

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Desejo codificado...

Engulo as palavras “na boca”, pois usá-las em complemento, seria despir-me diante de ti.
Não entendes bulhufas do que digo agora, eu sei.
Os códigos me são imprescindíveis. Com eles nos protejo de sua sofreguidão.
Reprimo meus passos adiante para que não deposites neles a confiança que eu ainda não posso dar-lhes.
Marcho insegura em disfarces, tateando o que sinto embaixo do meu colchão.
Se tantos cuidados são, por ti, considerados demasiados, lamento por essa interpretação.
Explico-me dessa maneira estranha, para que não me compreendas. Propositalmente.
Tal metodologia, utilizo para nos proteger de mim e do que não sei. Pois, o pouco que distingo é precioso, o suficiente para que seja cuidadosamente preservado com o carinho que merece ser.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Luto

O luto é doído demais. É uma gestação sem placenta, sem cordão, sem calor, sem mãe.
O luto é um recolhimento quase infinito. É um pouco de nós que se esvai em cada morte que não é a nossa.
O luto é o pavor da vida. É temer a morte e desejá-la profundamente.
O luto dói quase tanto quanto deixá-lo.
Despir-se do luto é renascer, mas é como matar novamente o que já morreu.
Deixar o luto é admitir a vida faltando-lhe pedaços da nossa própria alma.
A vida após o luto é a vida que sobra após cada morte.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

vasculhava meu velho blog em busca de algo que eu pudesse republicar, ou reeditar.
Encontrei um post onde citei algo que me cabe tão bem para hoje!
Na época, pelos anos de 2004, me inspirou um textinho que eu preferi descartá-lo por hora.

Mas reitero o ditado, que me cai como uma luva:

A metade de nossos erros na Vida
Vem do fato de que sentimos quando
Deveríamos pensar e pensamos
Quando deveríamos sentir

Lhurton Collins