Catarse(...)1. Purgação, purificação, limpeza. (...) 3.Psicol. Efeito salutar provocado pela conscientização de uma lembrança fortemente emocional e/ou traumatizante, até então reprimida. 4. O efeito moral e purificador da tragédia clássica, conceituado por Aristóteles, cujas situações dramáticas, (...), trazem à tona o sentimento de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou purgação, desses sentimentos.(...) Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986)

sábado, 10 de setembro de 2011

Ele ficou ali, sentado sobre a cama, admirando sua última conquista. Ela dormia profundo, entregue. A pele voltava vagarosamente à palidez usual, mas ainda restava manchada de uma cor indefinida, envernizada, úmida, e salgada.

Embora já não sentisse qualquer vestígio de desejo por aquele corpo, regozijava-se pelo seu mérito. Havia, porém, um leve sentimento de frustração, por ter sido um desafio menos trabalhoso do que supunha.

Quando a escolheu, entre tantas as outras moças que não lhe davam a devida atenção, julgava ser ela a mais próxima do inalcançável. Um tanto misteriosa, trazia consigo um gestual que sutilmente denunciava sua autoconfiança. Suas palavras sagazes esbanjavam uma capacidade de interação com o mundo, mas evidenciavam uma auto proteção exacerbada, que denunciava seu ponto fraco.

Sentia-se atraído pela moça. Menos pelo desejo de tê-la em seus braços, e mais pelo desafio que sua personalidade intrigante lhe instigava.
Nunca pensou que de fato a teria, assim, lânguida, desprotegida, escancarada sobre seus lençóis. Tão pouco pôde prever que a teria tido em seus braços, com olhar tão doce, e respiração ofegante.

Sua entrega foi tão intensa, transparente, presente e desarmada, que lhe estancava o encantamento. Sentiu-se um tanto decepcionado. Traído, de certa forma.

Continuou sentado, esperando o sabor da conquista diluir-se misturado entre seus lençóis. Nada lhe restava a fazer, a não ser esperar que a moça se fosse, para, então, sair em busca de uma nova e instigante conquista.

2 comentários:

Leila Viana disse...

Ana...Amei. achei muito legal, parece uma coisa "épica" daquela mulher de salões de sociedade, quando as mulheres não eram tão acessíveis, quando o calcanhar encoberto era objeto de desejo. Não sei porque isso que escreveu não me remeteu a algo moderno, mas uma época remota. Talvez "Ligações Perigosas". E este homem parece uma sargitariano nato que está sempre com sua flecha apontada para as estrelas inatingíveis.
Grande beijo e saudade. Leila

Ana Cabral disse...

Nossa,Leila! Depois de ler seu comentário achei mesmo que tem tudo a ver com ligações perigosas. Deve ter sido uma inspiração inconsciente. Também estou relendo A Insustentável Leveza do Ser, que perpassa por essa insatisfação do “conquistador”. Também tem a vida real, que está cheia deles! RSS. Além disso, todos nós trazemos essa dosagem de inquietude gerada pelo querer sempre mais.
Fiquei pensando nesse cenário construído por você, em um contexto épico, de outros tempos. Interessante como eu, apesar de ser uma mulher dos séculos XX/XXI, construo uma história em que o personagem feminino representa um objeto, na perspectiva do personagem masculino.
São esses ranços que trazemos no inconsciente coletivo, que enquanto nos esforçamos para ignorá-los, ou suprimi-los, eles escapolem pelos nossos poros.
Muito divã pra dar jeito nisso!
Beijos!