Catarse(...)1. Purgação, purificação, limpeza. (...) 3.Psicol. Efeito salutar provocado pela conscientização de uma lembrança fortemente emocional e/ou traumatizante, até então reprimida. 4. O efeito moral e purificador da tragédia clássica, conceituado por Aristóteles, cujas situações dramáticas, (...), trazem à tona o sentimento de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou purgação, desses sentimentos.(...) Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A dolorosa...

Passando a régua, noves fora, nunca será zero.
Sempre se leva um punhado de vida, ainda que dor.
Minha alma tornou-se acanhada, sisuda.
Mas, ainda, não se esquiva covarde.
Adulta, serena, pé ante pé.
Sentidos apurados, suspiros tímidos, desconfiados.
Menos estabanada, acolho o temor alheio.
Baixo a guarda, confio, permito, sinto.
No passar da régua, sempre há o que se levar.
Necessário apenas estar-se inteiro. Porque ao sair, é melhor que seja andando, ereto, firme. Convicto de que valeu, sem pena.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

quem me dera!

Quem me dera um amor agora! Daquele que chega pelas bordas, manso, lento, denso. Um amor meio serpente, sorrateiro, que se enrosque em meu pescoço, abale minhas defesas, drible minhas dúvidas, e penetre a minha alma.
Quem me dera, agora, um romance! Assoviar distraída, viajar em pensamentos tolos, espalhar sorrisos aos quatro cantos, sonhar planos com a vida alheia...
Ai! Quem dera uma paixão pra ontem! De me deixar sem rumo, sem prumo, sem chão... ai ai... quem me dera!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Desejo de ano novo

Postado originalmente em 03/06/2006, aqui: http://www.casanocampodacabral.blogger.com.br/2006_01_01_archive.html

Estou com sede
Quero provar de todos os sucos
e saborear o gosto insípido da água
Fome eu sinto,
mas a gula é sempre maior
e é na gula, exatamente por ser um pecado
que eu encontro o prazer
Satisfação é pouco
Sou matéria da pura
pouco trago de espírito
Ainda chego lá
Por enquanto me inspiro em sabores
Deixo-me seduzir por odores,
as delícias pecaminosas do tato
e a saliva do paladar

Desejo de ano novo...
De quem abre abre as portas e as janelas
Quero a brisa porque é romântica
e a ventania que é movimento
a tempestade para que eu finalmente tire as roupas do varal
O sol que me aquece o corpo
e amor pra aquecer minh' alma

Rugas de expressão

Quando a noite cai, e me desfaço dos meus personagens diurnos, olho-me refletida no espelho e lamento. Ressentida, por ver aquela moça cansada, de olheiras profundas, e coração partido.
Preparo a cama, ascendo o abajur, deixo um copo de água sobre o criado mudo e ensaio alguma leitura relaxante. Dou uma última olhada naquele corpo jogado entre os travesseiros. Penso em alguns reparos que lhe seriam bem vindos. Alguns ajustes no busto: um pouco maior, talvez. Uma empinada nos glúteos e uma torneada nas coxas. Perfeito!
Desvisto-me dos meus desejos de perfeição e retorno, jogada aos travesseiros. Aproprio-me da realidade e me torno humanamente equivocada, torta, marcada, vivida...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Você anda sem sapatos pelo chão da sala, e encera o piso com esse arrastar de barra de calça. Esse seu rastro lustroso ilustra as marcas de sua presença que dão mais brilho aos meus dias.

E tão demodé como a madeira encerada,
sou eu assim, essa moça apaixonada...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Com o salto em punhos

Tenho dessas atitudes inusitadas. E embora peça perdão por meus equívocos, ou por eventuais excessos, destes rompantes indolores eu não abro mão.
São, para mim, descansos para os pés exaustos do salto.
É preciso prevenir as varizes e os problemas cardíacos que decorrem da má circulação. Somatizar pra quê? Se é tão simples descalçar-se e deixar o fluxo ir se diluindo na terra molhada?
Viva o descer do salto! Porque é possível a elegância em pés descalços.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Recado

Precisei sair de fininho.
Sim, admito minha covardia. Tive medo que me visse ir, e não implorasse pra eu ficar. Tive medo de olhar seus olhos de menino, e de cair aos seus pés implorando pelo que não pode me dar. Senti pânico do futuro que eu viria sonhar ao seu lado, e desespero por não concretizá-los – tão perfeitamente construídos: os sonhos.
Foi preciso andar leve e sorrateira, e enfiar as narinas entre os dedos opositores. É que seu cheiro me atava ali: inebriada, lânguida, perdida de amor e de desejo.
Deixo aqui um recado anotado, sem nome, sem endereço, sem destino. Um recado sem data, sem prazo, sem fim. Um pedido desesperado para que, por favor, não se aproxime de mim...