Catarse(...)1. Purgação, purificação, limpeza. (...) 3.Psicol. Efeito salutar provocado pela conscientização de uma lembrança fortemente emocional e/ou traumatizante, até então reprimida. 4. O efeito moral e purificador da tragédia clássica, conceituado por Aristóteles, cujas situações dramáticas, (...), trazem à tona o sentimento de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou purgação, desses sentimentos.(...) Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A meu filho, parabéns pelos 18 anos! Com amor...

Há dezoito anos eu era uma menina e me acreditava mulher. Acordei meu companheiro sentindo uma Leve cólica, que já não sentia desde o início daquelas trinta e seis semanas desconcertantes. Era quinze de junho de mil novecentos e noventa e dois.

O dia era de sol e, embora fosse junho, não fazia tanto frio. As dores pioravam lentamente ao longo do dia. Às 14 horas, durante avaliação médica, Dra Fátima me informou que meu corpo estava a um passo (ou a alguns centímetros) do preparo ideal para o tão esperado parto.

Aquela informação foi-me mais perturbadora que o “positivo para gravidez”, que havia lido havia trinta e poucas semanas. Sentia-me profundamente arrependida de todos os meus pecados. Ou pelo menos daqueles relacionados à luxuria – que, afinal, haviam me conduzido até ali.

Eu era uma menina de dezesseis anos e, embora meu desespero pudesse ser facilmente notado na expressão do meu rosto, ninguém se apercebeu dele. È que estavam todos, futura avó, futuro pai, amigos, familiares, e até a obstetra, em verdadeiro pânico .

E estavam tão preocupados em disfarçar o próprio desespero, que nem se davam conta do que estava estampado em minha face. Até hoje lembram com admiração a destemida adolescente a caminho do parto normal.

Um médico desconhecido me examinou e disse que ainda faltava tempo. Esclareceu que a Dra. Fátima ( a minha adorável obstetra) terminaria sua consulta odontológica e viria ao meu encontro.

A essas alturas o pânico me era maior que as dores, e eu desejei arrancar todos os dentes da minha médica que se atrevia a deixar-me ali com um Dr. Qualquer, minha mãe e o pobre do futuro pai, que completaria dezessete na semana seguinte.

Mas logo estava ela no mesmo quarto que eu, sentada no sofá, e fazendo cara de paisagem, enquanto eu enchia de hematomas, com amáveis mordidas, o jovem que estava para virar pai do meu filho.

Lembro-me de que as dores eram suportáveis. Mas que eu não me sentia capaz de obedecer ao comando médico de fazer força enquanto a dor me incomodava. Acontece que a natureza demonstrou-se mais sábia. E eu consegui.

Mais um exame, mais uma força, e então seria pra valer. Dra Fátima chamou a equipe e deu o comando para que me levassem à sala de parto. Nessa hora eu nem me lembro de sentir dor. O medo ocupava a sala. Havia enfermeiros, médicos, e o jovem futuro pai que, ansioso, segurava a minha mão.

As ecografias não tinham alcançado o sexo. Seria uma surpresa, e Dra Fátima arriscou que seria uma menina.

Minhas pernas estavam cobertas e penduradas. Abertas, como se pode supor! E lembro-me da médica, novamente, me dar aquele comando absurdo para que eu fizesse força. Incrédula, levantei ligeiramente a cabeça e saquei energia de não sei onde.

Ouvi a voz da médica com certo entusiasmo repetindo: “Está saindo! Mais uma vez!”. E dessa vez a força veio com tudo, e junto um quase berro, um uivo esganiçado. E, ainda, no mesmo instante, senti as pernas dele saindo por entre as minhas. E o pediatra, recebia a criança e dizia: “Quantas mulheres fazem escândalo, e essa menina nem gritou!”

A Dra. Fátima limitou-se a dizer que havia se enganado. A mensagem estava dada. O jovem pai tinha os olhos cheios de lágrima e repetia: “É macho! É macho!”. Assim mesmo! Tão ridículo quanto se espera de um pai no nascimento do filho.

O bebê foi colocado sobre meu peito. Ele ainda não tinha nome. E eu estava feliz porque me disseram que ele tinha saúde. Sentia-me orgulhosa. Muito aliviada porque o tal do parto já tinha sido superado. E um mundo desconhecido estava representado naquele pedacinho de gente, ainda meio amassado, colocado sobre meu corpo.

Naquela noite, de quinze de junho de 1992, às 20h30, numa clínica de Brasília, minha vida tornou-se outra vida. E só ali eu pude compreender o que meu pai havia me dito quando soube da minha gravidez. Filho é para sempre.

7 comentários:

Carmem disse...

Nem preciso dizer que tô chorando, né?
Que lindo, Ana!
E estou chocada de, após 16 anos de amizade, descobrir que acho que não conversamos sobre os "portrasmente" da sua gravidez.
Não sabia que você foi pra sala de parto sem saber o sexo do Xandinho!
Que emoção deve ter sido!!
Que incrível!!
E também não sabia que ele ainda não tinha nome quando nasceu.
Que coisa, né?

Parabéns pelo filhão.
18 anos, né brinquedo não.

Muitos beijos, saúde e juízo ao rebento.

Um beijo mais do que especial a você, por tudo.

Unknown disse...

Parabéns Ana,
Hoje é um dia muito especial para você e para o Xandinho!!!!
Bj

Anônimo disse...

Ana, o nascimento do Xandinho sentido por vc hoje, coloriu mais ainda minhas lembranças. Feito aquarela inacabada que traz matizes ainda desconhecidas por nós mesmas...

Anônimo disse...

Ana, o nascimento do Xandinho sentido por vc hoje, coloriu mais ainda minhas lembranças. Feito aquarela inacabada que traz matizes ainda desconhecidas por nós mesmas...

Anônimo disse...

Nossa, Ana, faco minhas as palavras da Carmem. Seu testo me emocionou muito, de longe a coisa mais linda que vc ja escreveu.

Meus parabens (duplos) !!!

Anônimo disse...

Nao sei pq a assinatura nao saiu...

FC

FC disse...

OPS texto - isso que dá escrever do celular